O governo russo anunciou esta semana que desenvolveu uma vacina contra o câncer. A previsão é que o imunizante comece a ser distribuído para pacientes de forma gratuita a partir do início de 2025. De acordo com a agência russa de notícias, a vacina foi desenvolvida em colaboração com diversos centros de pesquisa. Ensaio pré-clínicos demonstraram que a dose suprime o desenvolvimento de tumores e de potenciais metástases. O Centro Nacional de Pesquisa Médica do Ministério da Saúde russo informou que trabalha com duas linhas de vacinas oncológicas. Uma delas é uma vacina personalizada que utiliza tecnologia mRNA, a mesma utilizada em doses contra a covid-19. O segundo imunizante é a Enteromix, formulada com base numa combinação de quatro vírus não-patogênicos que têm a habilidade de destruir células malignas e, simultaneamente, ativar a imunidade de pacientes contra um tumor.
“Com base na análise genética do tumor de cada paciente, uma vacina única é criada para ‘ensinar’ o sistema imunológico a reconhecer células cancerígenas”, detalhou o centro de pesquisa russo.
ESTUDO
Não existe nenhum estudo publicado em revista científica para atestar a eficácia e segurança da vacina ou para esclarecer para quais tipos de câncer ela será destinada. Também não há como saber se as doses gratuitas são destinadas para o tratamento da doença ou se os pacientes farão parte de testes clínicos.
“Se a gente faz uma busca no meio científico sobre a vacina mRNA russa, não achamos publicações mostrando dados. Não identificamos uma vacina que esteja sendo feita por grupo russo que mostre resultados promissores para a oncologia”, aponta Mariana Brait, gerente sênior de pesquisas do A.C.Camargo Cancer Center.
Estudos publicados em revistas científicas e revisados por pares têm um “selo de aprovação”. Significa que eles “passaram por um filtro”, garantindo qualidade e credibilidade. A revisão por pares é um processo em que especialistas independentes avaliam a metodologia, resultados e conclusões da pesquisa.
“Quando fazemos uma divulgação sem ter a publicação científica, sem a revisão por pares, criamos uma falta de transparência e a sociedade fica naquela situação de dúvida, se o que está sendo divulgado é sério. Quando vemos um anúncio que não está baseado em dados científicos, temos a sensação de desserviço”, completa a gerente sênior do A.C.Camargo Cancer Center.
VACINAS
Cientistas em todo o mundo continuam estudando e desenvolvendo vacinas contra o câncer. Em Londres, pesquisadores estão testando a primeira vacina para combater o melanoma, a forma mais letal do câncer de pele. Nos Estados Unidos, uma vacina brasileira é esperança contra o câncer de próstata.
Mariana explica que as vacinas contra o câncer têm como o objetivo fortalecer o nosso sistema imune e ensinar o corpo a identificar e destruir uma célula cancerígena.
As vacinas são divididas em três categorias:
Preventiva: vai impedir que o câncer comece. Um exemplo é a vacina contra o HPV, um vírus associado a mais de 90% dos casos de câncer de colo do útero e fator de risco para desenvolvimento de câncer no ânus, pênis, vulva, vagina e de cabeça e pescoço (uma região conhecida como orofaringe). Mariana cita também a vacina contra hepatite B, pois há câncer de fígado relacionado a esse vírus).
Terapêutica: vai atacar as células do câncer já existentes, sempre olhando para o câncer já estabelecido.
Personalizada: vai buscar as alterações presentes naquele câncer específico da pessoa e mirar aquela alteração. “Aqui as vacinas RNA fazem sentido, porque elas buscam alvos bem específicos”.
“Há diversas vacinas sendo estudadas no âmbito da oncologia. Vacinas de RNA sendo desenvolvidas e olhando para diversos alvos personalizados, outras desenvolvidas para um câncer específico, como o de pâncreas. Em Oxford estão buscando tratar o câncer de óvario. Enfim, temos inúmeras vacinas em desenvolvimento”, completa a especialista.
Com informações da
Agência Brasil e G1
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